segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Memorial celebra história de Clara Nunes

“Dinha, vou pedir a você que guarde esta radiola bem guardada, porque quem sabe um dia eu ganhe um museu”, disse Clara Nunes à irmã conhecida como Mariquita, hoje com 81 anos. Sua previsão estava certa. No último dia 11 de agosto ocorreu a inauguração do Memorial Clara Nunes em Caetanópolis, cidade natal da cantora, a 100 quilômetros de Belo Horizonte.
A radiola foi prêmio do concurso A Voz de Ouro ABC, no qual a candidata mineira conquistou o terceiro lugar. O aparelho é um dos mais de 6 mil itens catalogados por Marlon Silva, curador da exposição da carreira da artista, em cartaz no Memorial Clara Nunes. “Se não for o maior acervo pessoal, com certeza é um dos maiores de que se tem notícia”, revela Silva, que trabalhou em parceria com a professora e historiadora Sílvia Maria Jardim Brügger.
Clara Francisca Gonçalves foi uma das maiores estrelas da MPB entre as décadas de 1960 e 1980, depois de trajetória de muita luta. De operária da Cedro Cachoeira, de Caetanópolis, à Companhia Renascença Industrial, de Belo Horizonte, até a glória no Rio de Janeiro, a artista enfrentou dificuldades e preconceitos, vencendo tudo com determinação. “Ela conseguiu difundir uma obra que dialoga com as raízes mais profundas da cultura brasileira”, destaca Paulo Henrique Caetano, pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da UFSJ.
Além da recém-inaugurada instituição, que integra o Instituto Clara Nunes, comandado por dona Mariquita, o município abriga a Casa de Cultura Clara Nunes.
Acervo valioso
A riqueza do acervo de Clara Nunes é tamanha que ele poderá atender as mais diferentes áreas de pesquisa. “Desde a história à música, passando pelo teatro, moda e a arte em seus mais diferentes campos”, constata o curador Marlon Silva.

No salão principal está montada a primeira exposição, com panorama da carreira da cantora, que vai do envolvimento de Clara com religiões até documentos pessoais da artista. Peças de roupa, discos de ouro e acessórios, como as famosas tiaras de conchas, também compõem o acervo, repleto de fotografias de Clara Nunes ao lado de artistas como Clementina de Jesus, Elis Regina, Maria Bethânia, Gal Costa e Marisa Gata Mansa.
O curador apresenta um amplo painel de vida e obra da cantora, com a devida cronologia. Uma sala de projeção de audiovisuais, reserva técnica, administração e banheiros completam o memorial, cujo imóvel foi doado ao município pelo sobrinho da cantora, Sued Gonçalves da Silva. A casa onde a artista nasceu é objeto de campanha para se tornar espaço cultural.
Memorial Clara Nunes
Rua Fernando Lima, 250, Centro, Caetanópolis.
Funcionamento: quinta e sexta-feira, das 14h às 18h; sábado e domingo, das 9h às 18h.