quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Ivan Lins fala sobre trabalho


Há muito se sabe que Ivan Lins é um dos compositores brasileiros mais gravados no mundo – “perdendo” talvez só para seu mestre Tom Jobim. Desde os anos 1980 ele dá atenção ao exterior, mas só recentemente vem se sentindo, de fato, um artista internacional. E 2012 está melhor que a encomenda nessa direção, com nada menos que três discos na Europa e Japão. Em maio, foi lançado na Espanha, o álbum “Intimate”, que saíra em 2010 em vários países, inclusive no Brasil (com o título “Íntimo”). Recheado de astros como Alejandro Sanz, Jorge Drexler, Jane Monheit, o grupo norte-americano Take 6 e a holandesa Laura Fygi, tem ainda as assinaturas do holandês Ruud Jacobs e do alemão Rob van Weelde, renomados produtores de jazz e world music. Ivan canta em espanhol, claro.
Simultaneamente, as lojas de discos da Itália receberam “InventaRio Incontra Ivan Lins”, lançado pela Blue Note de lá, com as participações de Chico Buarque, Vanessa da Mata, Maria Gadú e Vinicius Cantuária – todos cantando em italiano. O “InventaRio” é um grupo dedicado à música brasileira, que gravou canções de Ivan no primeiro disco, de 2010, e neste segundo resolveu misturá-las com músicas italianas, obtendo elogios da imprensa como “um dos mais felizes casamentos entre as tradições musicais dos dois países”. E no Japão saiu Believe what I say – The music of Ivan Lins, produzido por Osny Melo, brasileiro radicado em Tóquio. É uma seleção de sucessos feita para as pistas, com ritmos brasileiros filtrados por techno e dance, cantados, entre outros, por Ivan, Simoninha, Luciana Mello e a japonesa Charito.
O Japão já não tem mistérios, pois lá está um de seus maiores públicos no exterior, alimentado por turnês quase anuais. Ele espera que o mesmo ocorra na Alemanha, onde se encontra em fase de finalização um álbum com a SWR Big Band, de Sttutgart, que sempre inclui autores brasileiros em seu repertório jazzístico. “Gostei muito de ouvir minha música com som de big band. Canto três letras, em algumas faço vocalise, e Paula Morelenbaum tem participação especial”, conta. Ainda sem título, esse álbum chega às lojas alemãs no final de 2012. Enquanto isso, o compositor trabalha na pré-produção do show de lançamento de “Amoragio”, o novo disco brasileiro (Som Livre), primeiro de inéditas em cinco anos – na verdade, algumas são regravações de músicas que ficaram “perdidas” em álbuns dos anos 80.
Shows animados
A estréia da turnê nacional de lançamento do CD ainda não tem data. “Quero fazer um show com o som o mais próximo possível do disco, e hoje em dia está difícil conseguir patrocinador para o meu tipo de música, ainda mais com uma proposta que implica em banda completa, grande produção”. Ele argumenta que tem percorrido o Brasil tocando com pequenos formatos (duo ou trio), com cachês acessíveis, a preços populares e com repertório conhecido, para levar sua música ao maior número de pessoas. “São shows muito animados, a platéia canta todas as músicas, saio satisfeito; mas sinto necessidade de levar para essas pessoas também o novo trabalho, e da forma ideal, completa. Daí, preciso de patrocínio.” Não deixa de ser estranho que um artista de prestígio internacional sinta tal tipo de restrição no próprio país.

Mesmo com mais de duas mil gravações de suas músicas por outros intérpretes (no exterior, de Ella Fitzgerald a Diana Krall), três GRAMMY Latinos na estante e 42 anos de carreira, ele diz que precisa “trabalhar como doido”, fazendo shows, para manter o padrão de vida, pois as rádios tocam pouco suas músicas e os direitos autorais no Brasil caíram muito, enquanto os internacionais são espalhados e demorados. Com relação ao mercado da música pela internet, Ivan é da opinião de que as compras de faixas deveriam passar pelos provedores de internet, controlados por uma agência fiscalizadora. Os downloads seriam pagos no fim do mês, como se paga o telefone. Em 2011, entrou no Facebook, mas ainda não se sente à vontade na rede. “Sou da antiga, meu negócio é sentar no piano e compor”, finaliza.

Fonte: PORTAL SUCESSO Por Juarez Fonseca